quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O discurso de um farmacêutico

Resolvi abrir esse pequeno espaço (mas limpinho) para outra forma de manifestação e fazer justiça com um discurso que não pode ser lido. Abaixo está o discurso que seria proferido pelo meu amigo José Miguel do Nascimento Jr (diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde) na abertura do Congresso do CRF-SP. Infelizmente, em virtude de manchetes mentirosas que ocuparam a mídia na ocasião, ele não pode fazê-lo pois abordou outros assuntos. Uma pena, pois além de coerente, falaria de coisas as quais precisávamos ouvir. Bem, ele até falou rapidamente sobre algumas coisas que aqui estão descritas, mas não pode fazer na íntegra. Sendo assim, pedi sua autorização para postá-lo e aqui vai. Boa leitura...

"Boa noite a todos e todas.

Cumprimentando aos membros da mesa, quero dizer também que é motivo de muita alegria compartilhar este momento com  eminentes profissionais e autoridades do setor saúde e de políticos, homens e mulheres, que têm compromisso com a saúde pública do nosso país.

Presentes neste evento estão profissionais e estudantes de diversas partes do país que estão aqui hoje focados em apreciar e debater ações que, por meio de atividades voltadas para a atualização e qualificação profissional, vão unir o conhecimento técnico ao perfil empreendedor, despertando no profissional farmacêutico uma atitude ainda mais inovadora. O resultado disso, com certeza, será a busca de oportunidades e soluções para a área de saúde.

Em 2003, o Governo Federal por meio do Ministério da Saúde instituiu o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF), vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). A missão do DAF é a de promover o acesso a medicamentos.

Em 2004, foi aprovada no Conselho Nacional de Saúde a resolução 338 que instituiu a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Compreendida como parte integrante da Política Nacional de Saúde (PNAF), a PNAF envolve um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, garantindo assim os princípios da universalidade, integralidade e equidade.

Vale ressaltar que esta Política aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, é uma política adequada à realidade dos nossos dias, fruto dos debates realizados nas últimas Conferências de Saúde e principalmente, da I Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica, convocada por este Governo.

A Assistência Farmacêutica passou a ser compreendida como uma política pública norteadora para a formulação de políticas setoriais, como a Política de ciência e tecnologia, como a política de desenvolvimento industrial, Política de recursos humanos, entre outras. Portanto, as metas que foram cumpridas pelo Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do DAF, atenderam as demandas da sociedade e as diretrizes apontadas na PNAF.

Nós farmacêuticos, sabemos que o medicamento é insumo essencial e seu acesso e uso racional são fundamentais.  Sabendo disso, o DAF coordena ações que envolvem a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, monitoramento na qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população. É preciso aqui resgatar o papel desempenhado pelos diretores que passaram pelo DAF: Dr. Norberto Rech, Dr. Dirceu Barbano e Dr. Manoel Roberto dos Santos.
O compromisso dos ex-diretores com a efetivação da PNAF, fez com que o DAF pudesse empreender a implantação das ações de modo planejado e contínuo.
 Muitas foram as atividades desenvolvidas pelo Ministério na busca da efetivação dos eixos estratégicos da PNAF. Entre elas, vale destacar algumas.

1 - Buscando o aperfeiçoamento e a qualificação do profissional farmacêutico que atua no setor público, o Ministério desenvolveu parcerias com Universidades públicas e privadas, financiando cursos presenciais em nível de especialização em gestão da AF. São 13 cursos e serão 500 profissionais formados;

2 -  em parceria com a Faculdade de Farmácia da UFRGS - por meio do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento em Atenção Farmacêutica (GPDAF), foi criado o curso “Farmacêuticos na APS: construindo uma relação integral”. A proposta do curso é qualificar técnica e humanisticamente o profissional farmacêutico para atuar na Atenção Primária em Saúde, desenvolvendo com competência as atividades de núcleo e de campo, pautadas nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

3 - Ainda no campo da qualificação, até o fim do ano estará aberta a turma Nordeste do Curso em Gestão da Assistência Farmacêutica, em EAD. Este curso, já financiado e que se desenvolverá ao longo de 2011, visa capacitar 2000 farmacêuticos.

4 - Destaco que o MS, em janeiro de 2008 incluiu a área de farmácia no Pró-Saúde. Este programa incentiva a participação e dá diretrizes para a construção de projetos pedagógicos para cursos de graduação em farmácia. O Pró-Saúde visa o domínio e a capacidade de aplicação dos princípios e diretrizes do SUS no processo de gestão do sistema, com impactos na tomada de decisão e suas conseqüências na estruturação de serviços e ações de assistência farmacêutica nos diferentes níveis de atenção à saúde.

A Portaria 362, de fevereiro de 2008 aprova o incentivo financeiro para os municípios que integram os projetos aprovados no Edital Pró-Saúde. forão 34 projetos apoiados.

5- O DAF é responsável pela coordenação da Secretaria Executiva do Comitê Nacional para o Uso Racional de Medicamentos. A criação do Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos é um exemplo. O concurso, que está na sua segunda edição, visa incentivar a produção técnico-científica voltada à promoção do uso racional de medicamentos, com aplicação no Sistema Único de Saúde (SUS) e serviços de saúde.

São premiados e reconhecidos mérito dos trabalhos de profissionais e entidades/instituições com impacto na promoção do uso racional de medicamentos; e de pesquisadores e profissionais com trabalhos voltados à promoção do uso racional de medicamentos com aplicabilidade no SUS e serviços de saúde. Os trabalhos premiados e com menções honrosas serão divulgados no intuito de incentivar sua incorporação pelo SUS e serviços de saúde. E, com o intuito de promover e incentivar o Uso Racional de Medicamentos, o Ministério da Saúde tem atualizado permanentemente a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais e o Formulário Terapêutico Nacional.

Dentre as ações voltadas à ampliação do uso de medicamentos e que mereceu destaque no Governo Lula, podemos afirmar a Farmácia Popular do Brasil. Criada em junho de 2004, ela tem como objetivo ampliar o acesso da população aos medicamentos essenciais, a um baixo custo e de forma a beneficiar uma maior quantidade de pessoas.

O Programa atua sobre dois eixos de ação. As Unidades Próprias, em funcionamento desde junho de 2004, desenvolvidas em parceria com Municípios e Estados. Outro eixo é o “Aqui tem Farmácia Popular”, lançado em março de 2006 e desenvolvido em parceria com farmácias e drogarias privadas.


6- O Sistema Hórus, por exemplo. Podemos afirmar que sua aplicação é um marco para a saúde no Brasil. O Hórus tem como principais objetivos contribuir com a gestão da assistência farmacêutica nos municípios e nos Estados; auxiliar no planejamento, monitoramento e avaliação das ações da Assistência Farmacêutica; controle de estoque; conhecimento do perfil e o acompanhamento do uso dos medicamentos; aperfeiçoar os mecanismos de controle e a aplicação dos recursos financeiros e contribuir para a ampliação do acesso e promoção do uso racional de medicamentos pela população.

O preenchimento do Cadastro de Adesão começou a ser disponibilizado na página eletrônica do Ministério da Saúde desde dezembro de 2009. Até a segunda semana de julho, foram realizados 944 cadastros. Dos 944 cadastrados, 690 secretarias municipais de saúde assinaram o termo de Adesão . Foram capacitados 469 municípios e 60 municípios em diferentes Estados do país já solicitaram essa senha e iniciaram a implantação do sistema.


Quero finalizar ressaltando aos senhores e senhoras presentes que, como diretor do DAF, digo que ajudar e contribuir para a área farmacêutica é muito gratificante.  O trabalho realizado com certeza vai refletir no resultado final do papel do farmacêutico nos últimos tempos."

sábado, 11 de setembro de 2010

Carta de um breve adeus

Estava preparando mais um texto para o blog quando, pela amanhã, através do twitter, passei a acompanhar as primeiras informações sobre o falecimento de Rafael Schuab Moreria, de apenas 20 anos de idade. Alguns dos jovens membros da Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia – ENEFAR, chocados com a perda repentina de um dos seus diretores, postaram no twitter fotos recentes do encontro da Coordenação Nacional da ENEFAR em Ouro Preto-MG. Pude então ter uma breve idéia sobre o Swab (como eles o chamavam): Jovem, envolvido e sonhador. Para Che Guevara, todo jovem deveria ser assim, pois “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”.

Vai um herói e fica a saudade. Vai um lutador e ficam as batalhas. Com certeza, ele estará presente em todas elas. Não o conheci, mas assim como também disse Che “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”. Por isso, também deixo meu adeus ao novo companheiro! Como diz a canção da despedida: "Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus. Bem cedo, junto ao fogo, tornaremos a nos ver."

Fica minha solidariedade ao Movimento Estudantil de Farmácia, aos seus amig@s e familiares.

Abaixo, reproduzo a carta escrita pelos membros da ENEFAR:


"Brasil, 11 de setembro de 2010



Hoje o MEF chora,



Perdemos um colega, militante, um irmão. Com apenas 20 anos de idade e muita história de luta no Movimento Estudantil de Farmácia (MEF). Faleceu hoje pela manhã (dia 11 de setembro) em um acidente automobilístico, Rafael Schuab Moreira, membro da nova Coordenação Nacional da ENEFAR. Estudante na UEM, assumiria o cargo de Secretário Geral na Coordenação Nacional da ENEFAR gestão 2010/2011.

Um choque para todos os amigos e militantes próximos ao jovem. Sendo que a menos de uma semana estávamos todos reunidos em Belo Horizonte e Ouro Preto em nosso Fórum de Organização da nossa Gestão na ENEFAR.

Fica a lembrança de um jovem sonhador, brincalhão e, sobretudo disciplinado. O Rafael Schuab, o Swab como o chamávamos, foi um grande amigo, se tornou militante unido por um sonho, depois se tornou um irmão e hoje é um anjo. Sem dúvida ele estará nos guiando e protegendo durante este ano de luta.

Apesar de muito abalados nós da Coordenação Nacional eleita temos a convicção de continuar na luta, fazer de seus sonhos realidade e honrar para que seu nome não se apague.

“Swab obrigado por tudo, olhe sempre por nós e pode ter certeza que esse ano o MEF irá Integrar, Crescer e Mudar como nós sonhamos juntos meu irmão.”



Cálice







Qualquer um conseguiria odiar a quem ama



Mas somente os atores sabem amar a quem odeiam

Qualquer um compararia o amor a uma chama



Mas somente os fracos a uma chama que queima

Qualquer um consegue viver um instante da vida



Mas só os românticos viveriam num instante,



uma vida inteira







Para Rafel Schuab um eterno romântico



DE TODOS OS QUE COMPÕEM A ENEFAR





sexta-feira, 3 de setembro de 2010

É para termos medo das plantas?

Um dos meus 2 ou 3 seguidores disse uma coisa que achei sensacional: “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”. Essa inovadora frase, que nunca na história desse País havia sido dita, me fez refletir de que a cura dos males que acometem a humanidade, sempre foi uma das maiores preocupações das sociedades, tendo sido, talvez, uma das maiores buscas do homem (e mulheres). Empirismos, simpatias e rezas, foram precursores de alguns dos tratamentos que dispomos hoje.

Para tratar deste tema, foi inevitável lembrar-me de minha infância, que passou por mim não faz tanto tempo. Quando criança, a cada soluço emitido, minha bondosa mãe se munia de um pedaço de linha vermelha embebido com sua própria saliva e colava-o em minha testa. Lá ia eu para escola com aquele badulaque, tal qual um pequeno indiano com o seu simbólico “terceiro olho”. Isso sem contar os sustos que ela me dava, já que acreditava ser este um tratamento eficaz para o descompasso gerado pelo meu pequeno diafragma. Quando me contundia, vinha ela com uma faca de inox e sobrepunha sobre o inchaço, fazendo o sinal da cruz. Para o meu terçol, bastava esquentar sua aliança, através de fricções na palma da mão e colocá-la sob o pequeno tumor inflamatório instalado em minhas pálpebras. Para inflamações na garganta: água morna com vinagre era a solução. Num armário do apartamento em que residia em Niterói, havia uma pequena coleção de frascos com pedaços de mim que se foram pelo caminho: meu primeiro dente, o resto do cordão umbilical e minhas amígdalas, popularmente conhecidas como tecido linfóide. Enfim, minha mãe era médica, farmacêutica e colecionadora de pedaços do corpo humano. Se buscarmos avaliar alguns dos atos cometidos por ela, percebemos que, mesmo sendo oriundos da cultura popular, tinham certa lógica. Bom, o vinagre, popularmente conhecido como ácido acético, tinha ação bacteriostática. E o pior é que tudo aquilo parece que funcionava!!!!

Certa vez, fui levado a conhecer parte da família que residia no interior de São Paulo. Depois de ser apresentado a primos e primas, sentamos na calçada da casa de uma de minhas tias. Neste momento, um cão enorme avançou sobre mim. Desmaiei e, não sei se fruto do susto, meu coração passou a apresentar fraqueza para bombear o sangue para meu pequeno corpo. Um dos diagnósticos clínicos da época sugeriu uma cirurgia. A família relutou e foi atrás de uma segunda opinião. Novamente veio a recomendação de que meu pequeno peito fosse apresentado a um bisturi. Mediante o desespero familiar, uma vizinha disse: “Conheço uma benzedeira que é fantástica”. Fui levado a ela praticamente desfalecido. Após sessões de rezas e de goles de chás recomendados por ela, que mesclavam uma série de plantas, curei-me e não precisei de nenhuma intervenção cirúrgica.

Pensei nisso tudo ao acompanhar o debate acerca dos fitoterápicos que tem ocupado os veículos de comunicação. Enquanto acompanhava a reportagem que, de uma forma maldosa em sua introdução, falou do poder das plantas e mostrou comunidades que acreditam nos ensinamentos milenares, questionei-me a mim mesmo, já que não tinha ninguém comigo, se tudo sempre esteve errado. Vários questionamentos invadiram minha mente: Será que minha mãe cometeu crime ao me tratar? Será que a benzedeira em nada acertou e fui curado pelo poder da fé? Quando se deu a diferença entre os ensinamentos gerados por diversas populações ao longo da evolução do ser humano e a ciência? Uma matéria que nos choca ao questionar o poder das plantas, tem por trás algo maior? Quem matou Odete Roitman? Eram os Deuses astronautas?

Cansado de tanto pensar, antes de puxar o edredom, preocupei-me com o impacto na sociedade de uma abordagem que, em princípio, traz equívocos. Creio na capacidade administrativa e intelectual dos que hoje ocupam cargos nos órgãos sanitários. Creio na seriedade com que as Políticas são implantadas em nosso País...e para Fitoterápicos existe uma. Creio que não existe “opinião isenta”. Se é opinião, não é isenta. Não tenho dúvidas de que a ciência deve prevalecer sobre as visões mágicas, como também não tenho dúvidas da seriedade que permeou a inserção dos fitoterápicos no SUS. Por via das dúvidas, antes de embalar no sono dos justos, dei um beijo numa folha do meu pé de erva-cidreira e tirei o  galhinho de arruda de trás de minha orelha. Boa noite!