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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Os avanços no controle das Hepatites Virais no Brasil.

Os avanços no controle das Hepatites Virais no Brasil 

Fabio Mesquita*

O Brasil estabeleceu seu Programa Nacional de Hepatites Virais em 2002. Em 2009, o PNHV foi integrado ao Programa de IST e AIDS, do Ministério da Saúde e constituiu o Departamento de IST/AIDS e Hepatites Virais. 
Em maio de 2010, nosso país liderou na Assembleia Mundial de Saúdeuma resolução (aprovada), criando o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, colocando na pauta de todos os governos este tema como relevantíssimo para a Saúde Pública. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu seu Programa Global a partir deste evento.
Em 2013, em parceria com experts e ONGs no tema, fizemos um esforço adicional para tirar as hepatites virais da lista de doenças negligenciadasimpulsionando a resposta brasileira ao agravo.  
A partir d, demos passos importantes nesse sentido, como a publicação do primeiro protocolo de transmissão vertical (de mãe para filho) incluindo HIV, Sífilis e Hepatites Virais e da modernização da estratégia de controle da transmissão vertical da hepatite B, introduzindo tratamento medicamentoso no terceiro trimestre da gestação. 
Ainda em nossa gestão implantamos, junto ao Programa Nacional de Imunizações, a vacina contra a hepatite A em criançasAlém de atualizarmos o Protocolo de Tratamento Clínico da Hepatite B, publicado posteriormente.
Outro ponto fundamental levantado por nossa gestão, foi a preocupação efetiva com Hepatite Delta, até então bastante negligenciada. 
O tempo passa e grandes mudanças surgem. Graças ao avançotecnológicosurgiu a cura da hepatite C com os novos Antivirais de Ação Direta, que apresentaram taxas  de cerca de 95% de cura, e que revolucionaram o tratamento no Brasil e no mundo. Na sequência, outro passo inovador com enorme impacto na saúde da população brasileira e no Sistema Único de Saúde (SUS), foi a publicação do novo Protocolo Clínico de Tratamento de Hepatite C publicado em Maio de 2015
No mesmo ano fechamos uma negociação com três empresas produtoras de medicamentos (Gilead, Bristol Myers Squibb e Jansen) conseguindo barateamento nos custos dos remédiosem relação aos preços praticados na Europa e Estados Unidosde 95%. Isto viabilizou preços mais acessíveis que o SUS poderia pagar.
Foi uma verdadeira Força Tarefa para promover tantosbenefícios aos que mais necessitavam. Para tal contamos com apoios indispensáveis do Ministro Arthur Chioro, dentãoSecretário de Vigilância, Jarbas Barbosa, da Comissão de Incorporação de Tecnologia do SUS (CONITEC), da ANVISA, e dos excelentes técnicos do DIAHV liderados pelo Dr. Marcelo Naveira, outro santista de ponta. 
Contamos ainda com o apoio de um Comitê Técnico Assessor de excelenciacom celebridades da área como nosso colega santista , Dr. Evaldo Stanislau , Dra. Leila Beltrão e Dra.Kycia Maria, dentre outros, e com a ajuda incondicional da Sociedades Brasileiras de Hepatologia e de Infectologia,liderada pelos médicos Edison Parise e Erico Arruda, respectivamente.
Tudo isto para atender a uma reivindicação histórica do movimento social de luta contra as hepatites no Brasil, liderados por mais um Santista, Jeova Fragoso, por Carlos Varaldo dentre outras lideranças.
Os novos medicamentos começaram a ser distribuidos em outubro de 2015 e nos dois primeiros anos de tratamento promoveram a cura de aproximadamente 60 mil pessoas, que tinham grau de fibrose  hepática avançada. 
A partir deste momento criamos um precedente para considerar a Hepatite C uma doença possivel de eliminação . Finalmente passou a ser possível sonhar com a expansão do tratamento para todos. Isto fez do Brasil de novo uma referência
Tratamos e curamos de maneira blica e gratuita milhares de pessoas, tiramos inúmeros pessoas da futura fila de transplante, com medidas de tremendo impacto social e elevado custo benefício para o SUS. 
Todo este histórico e iniciativa da gestão à época, deu ao Brasil o privilégio de sediar o II Summit Mundial de Hepatites Virais, que começa hoje em São Paulo, reunindo quase mil pessoas de todo o mundo, entre autoridades da saúde, sociedade civil e especialistas. 
Desejamos sucesso ao evento e seguimos acompanhando de perto os avanços em todo o mundo na luta contra as Hepatites Virais.  
 
*Fabio Mesquita é medico, doutor em Saúde Pública, trabalhou por muitos anos na Baixada Santista, foi Diretor do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (2013 – 2016) e atualmente trabalha na sede da Organização Mundial de Saúde em Genebra no Departamento de HIV e no Programa Global de Hepatites Virais.